terça-feira, 21 de maio de 2013

Mas está tudo parvo?


A sério que me passo por ver montes de gente a aplaudir a atitude do rapazito do video como se ele carregasse toda a razão do mundo naquela frase inconsequente!

Então vamos lá ver... a maioria vê as questões da Raquel Varela como se ela o estivesse a atacar. Não me pareceu, pareceu-me foi que ela quis que o grande empreendedor visse o outro lado da coisa!

É bom uma pessoa ter uma ideia e ser empreendedora, correr atrás dela? Sim, é.
É melhor estar a receber o salário mínimo do que a receber salário nenhum? Sim, é.
Está correcto ver que o nosso sucesso sustenta-se no trabalho de pessoas que recebem o salário mínimo e não fazer nada para o mudar? Não, não está.

Isto porque nem todos podem ser empreendedores com sucesso. Nenhum negócio ou empresa em média ou grande escala funciona sem empregados. E um empregado não é só um capacho para fazer o que não queremos e a quem se pode pagar o mínimo possível estabelecido por lei. Um empregado, é acima de tudo, um prestador de serviços e a empresa precisa tanto dele quando ele precisa da empresa!

O que acontece é que com esta treta toda da crise as pessoas (e principalmente as da minha idade e mais novas que nunca tiveram um trabalho a sério e pago dignamente) meteram na cabeça que ter um emprego mal pago já é uma benção destinada somente aos mais iluminados. É melhor que estar desempregado.
Mas o nosso salário mínimo é um salário de sobrevivência, não é um salário que permita uma vida confortável! Dá para a renda de uma casa medíocre, água, luz, gás, telemóvel, alimentação e, com sorte e boa gestão, para a TV Cabo ou para a Internet.
Vejam lá! O único prazer de que podem desfrutar, se quiserem viver por conta própria é sentar o cu no sofá e ir ver televisão ou brincar para o computador! Isto digo eu que vivo por mês com um valor semelhante e sei bem o que me custa ter de andar a esticar o dinheiro. (Não, nunca me ofereceram grande coisa e eu já respondi a centenas de anúncios de emprego entre os meus 17 anos e os meus 23 menos um mês.)

Não posso pagar por umas lentes novas para os meus óculos cuja graduação já está desajustada há dois anos e que tem uma lente tão riscada que até mete dó. Digo eu que há mais de três anos quero trocar de computador porque o meu já não aguenta os programas que preciso para fazer os meus trabalhos e tenho de me contentar com este, que me foi dado no tempo do E-Escolas. Digo eu que todos os Verões fico ressentida de ver os outros, com mais posses que eu, a viajar e a ir aos festivais a que eu queria ir, quando eu tenho de me obrigar a encontrar qualquer trabalho mal pago para garantir a minha sobrevivência e a da minha família.

É bonito ver pessoas a regredir na vida, como o meu pai, que tinha um emprego onde ganhava quase 1000 euros por mês, viu a empresa a fechar portas e, quatro anos depois, quando finalmente arranjou um trabalho mais ou menos estável, teve de se contentar com pouco mais de 600. E perceber que, com pouco mais de 1000 euros, que a minha mãe ganha pelo mínimo, se têm de sustentar duas filhas que só não são três porque a outra é teimosa e quer pagar pela sua sobrevivência.

Mas está correcto um rapazito ganhar um bom dinheiro e não querer saber que, para isso, umas 100 pessoas recebem somente o suficiente para comerem mais ou menos bem e terem um tecto mais ou menos para dormir e tomar banho durante o mês, somente o suficiente para no mês a seguir estarem vivas e para continuarem a ser exploradas sem se queixarem muito.

O empreendedorismo é bom, sim. Fomenta a economia, sim.
Mas o bom empreendedor tenta fazer com que aqueles que trabalham para ele (e os trabalhadores da fábrica são empregados dele indirectamente) recebam o valor justo pelo seu esforço e não o pagamento mínimo obrigatório para vir mais para o bolso, que é o que acontece na maioria das vezes.

E eu também tenho ideias. Também podia ser empreendedora. Não tenho é como pagar o investimento, nem todos têm.

Por isso, aplaudam o rapaz e assobiem a doutora.
Mas eu já a ouvi sem que um público histérico a interrompesse e percebi que ela não é contra o empreendedorismo. Até o apoia, desde que ele não se sustente na exploração do trabalhador.

2 comentários:

  1. Como tu própria disseste, é MELHOR trabalhar do que estar em casa desempregado. Foi APENAS isso que o rapaz disse. :)

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  2. Sobre este assunto partilho contigo um exercício muito interessante: http://aristocratas.wordpress.com/2013/05/22/teste-do-puto-empreendedor/ ;)

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