sábado, 18 de agosto de 2012

Meio-cheio, Meio-vazio

Aviso: Conteúdo reservado a maiores de idade.




Mais uma noite. E lá vem ela mais uma vez.

Bem sei que vive num sonho regado a Dry Martini, a vermelho e dourado, a pianos e contrabaixos, saxofones, trompetes, vozes que culminam no jazz que lhe corre nas veias.

Ninguém sabe como me fascina esta mulher. Volta sempre no alto dos saltos, segura a cigarrilha entre os dedos, leva-a aos lábios como mais ninguém sabe. Cada gesto é um acto de sedução.

Exala o fumo por entre os lábios vermelhos, passa as unhas escarlates no bordo do copo vazio.

- É mais um, se faz favor.

Dirige-se à jukebox. A cada passo, o vestido negro dança justo ao seu corpo e levanta uma aura de mistério à sua volta. Ninguém resiste a perguntar-se o que mais haverá nela além das longas pernas que exibe, segura.

Inclina-se. Demora a escolher o que ouvir. Escolhe sempre o mesmo. E dança, só, por entre os olhares que a rodeiam.

Cruza os olhos castanhos com todos eles. E faz a sua escolha.
Aproxima-se, pousa uma mão sobre o ombro esquerdo, molha os lábios e segreda que tem sede. Faz a mão deslizar sobre o peito e fá-la descansar sobre a perna, que acaricia. Troca provocações segredadas, sorri, vai directa ao assunto. Não é ela quem paga.

Novamente levanta-se e é seguida pelo homem que a segura pelas ancas. São os últimos a ficar.

Imagino que ele a tenha puxado para si num beijo mordido, pegado ao colo contra a parede. O vestido subiu, ele segura-a, senta-a sobre o lavatório. Ela agarra-se às suas costas, arranha-o na excitação que ele lhe provoca. Oiço-a gemer, despudorada. Vejo o batom borrado nos lábios entreabertos que me fazem prever o orgasmo que se aproxima.

Passam uns minutos. Saem os dois da casa de banho. Ele vai-se embora.

Todas as noites ela senta-se à minha frente, ajeita o cabelo desgrenhado e o ouro que carrega. Acende nova cigarrilha.

- É mais um, se faz favor.

Bem sei que é só mais um. Amanhã há-de voltar. Para mim. Para outro qualquer.

Ela nunca me viu. Sou só aquele que a escuta ao longe. Que lhe serve a bebida. E volto a encher o copo.

[Este é um conto que escrevi há já algum tempo, parte da secção "Shiu... É segredo!"]

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