sábado, 18 de maio de 2013

Em retrospectiva #1

Há escolhas que marcam profundamente a essência de quem somos.
Caminhos que depois de atravessados nos dão a certeza de que, embora sejamos a mesma pessoa que éramos antes de nos embrenharmos nele, há muito em nós que mudou, que cresceu, amadureceu.

Escolhi vir para a Covilhã há três anos atrás, num gesto de revolta, numa ânsia de liberdade, independência, rotura, recomeço. O principal motivo não foi o desejo pelo curso ou por reentrar no ensino superior, mas sim a vontade que tinha de sair de casa.

Passei por muito. Bom e mau, mas garantidamente inesperado.
Ri, chorei, fui do oito ao oitenta.

Mantive-me fiel a algumas coisas.
Abri a mão da maioria.

Esta foi a semana de recolher fitas e ler palavras.
Aquelas que têm necessariamente de ser ditas, aquelas que sem dizer nada dizem tudo.
E, necessariamente, aquelas que não acrescentam nada.

Ao mesmo tempo, é fácil e difícil perceber quais, daqueles que me acompanharam ao longo de todo este tempo, os que são para a vida e quais os que ficam neste momento que, apesar de tudo, não pode ser considerado se não o melhor da minha vida.

Há aqueles a quem terei sempre algo a dizer.
Aqueles a quem não há mais nada a dizer.
E aqueles que, mesmo não estando tão perto, nos sabem numa palavra.

Há ainda aqueles que parecem esquecidos mas não estão.
Aqueles a quem queria ter dado uma fita, aqueles a quem gostava de ler as palavras, aqueles que, de certo modo, ficaram marcados no meu coração, mesmo que o tempo passe e não tenhamos falado ultimamente.
Aqueles a quem gostava de ter entregue aquele pequeno e especial pedaço de tecido em mãos com um sorriso e um beijinho, mas a quem não me dirigi por falta de oportunidade. Talvez ainda o faça depois de hoje, afinal as memórias podem ser construídas todos os dias.

Hoje foi o dia da Benção das Pastas e, no momento em que a minha irmã pequena me abraçou e chorou escondida na minha capa, percebi.

Eu adorei fazer este curso e ele tornou-se na minha primeira prioridade, desde o momento em que respirei a cidade no dia da matrícula.
Tive saudades dos meus como nunca esperei ter, principalmente da família.
A liberdade que a independência oferece por vezes custa cara.

E que está na altura de crescer.
De deixar partir aqueles que só cabem na memória destes anos.
De manter quem quero por perto e de recuperar quem, sem querer, deixei escapar aos poucos.

Porque este percurso académico não foi perfeito.
A vida não é perfeita. E em tudo há tanto de bom como há de mau.

Hoje foi um dia bonito.
Mas sou incapaz de deixar só palavras bonitas quando também assisti a coisas muito feias.

2 comentários:

  1. Eu tenho o sonho de ir para a faculdade, quero ir para uma que fica a cerca de duas, três horas de minha casa nem sei bem porquê e sei que o dia em que tiver condições para o fazer o que me vai custar mais é estar longe da família, principalmente da minha irmã pequenina que é como um pilar na minha vida, mas temos que fazer escolhas, não se pode ter tudo ao mesmo tempo, a vida é mesmo assim.

    Parabéns :)

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