sábado, 16 de março de 2013

Do telemóvel acidentado

Já que foi mais que uma pessoa a querer saber do meu telemóvel, dedico um post ao menino querido do meu coração.


Era um Nokia 1616, dos mais básicos que há.
Foi comprado no dia 9 de Novembro de 2011, para substituir de urgência outro telemóvel que morreu afogado (embora em circunstâncias diferentes).

Sei a data porque foi no dia da Latada do meu 2º ano na Covilhã.
Chovia torrencialmente e eu, que andava com dois telemóveis, multibanco e chaves de casa, no casaco do traje não tinha espaço para tudo. Então, os telemóveis andavam presos nas mangas. Só que com a chuva, o tecido afrouxou e deixei cair o bicho numa poça de água. Morreu. Eram cerca das três e meia, quatro horas da tarde, o céu tão carregado de nuvens que quase já parecia noite e o álcool no sangue ajudava a toldar a visão. Eu andava com uma garrafa de bebida na mão, daquelas misturas baratas de vinho e sumo à estudante, quase vazia por sinal.
No fim da Latada pensei ir larga-la a casa e seguir até ao centro comercial para comprar um telemóvel de urgência, já que aquele era o que eu usava para falar com o meu namorado e sabia que pelo menos preocupado ou chateado ele havia de ficar. Às cinco da tarde lá me decido a descer para ir ao centro, mas a meio caminho encontrei um amigo a consolar outra amiga dele e por lá fiquei a ajudar. Sem sitio para me sentar e com os pés a latejar, às tantas chego a estender a capa no chão encharcado para me sentar e, naquela esquina, ficamos até à noite, quando a rapariga se oferece para nos fazer jantar.
Saí de casa dela faltavam dez minutos para as onze e para o centro fechar. Corri para lá, mesmo com os saltos a magoarem-me muito os pés e, estava o homenzinho da loja a puxar a grade para baixo quando eu apareço trajada, encharcada, desgrenhada, desesperada e com os collants todos rotos e quase a implorar digo-lhe "Venda-me o telemóvel mais barato que tiver!".
O homenzinho vendeu-mo e, derreada, debato-me entre esperar o autocarro para ir para casa, subir a cidade a pé, ou descer um bocadinho mais e seguir para a Recepção ao Caloiro. Decidi-me por esperar o autocarro e, na paragem, abri a embalagem do telemóvel, coloquei-lhe o cartão, liguei ao namorado e, como seria de esperar, ouvi um sermão. Foi esta a primeira vez que liguei o meu telemóvel.

Na quinta à noite ele morreu. Afogado, como o antecessor. Caiu na sanita.
Sequei-o com o secador, meti-o em arroz, mas até agora não ligou.
O cartão está vivo, a bateria também, que testei no meu outro telemóvel que, por acaso, usa uma bateria igual. Mas o corpo do bicho insiste em não acordar.

Felizmente não tive de fazer outra corrida em busca de um substituto.
Há pouco mais de um ano, apanhei uma campanha que andava pelas universidades a oferecer telemóveis e decidi-me por chegar atrasada ao trabalho e apanhar um, apesar do interesse ser a migração de tarifário que andavam a fazer, que me ia baixar a mensalidade para cinco euros.
Mas sinto a falta do meu menino. Este até é a cores e tem máquina fotográfica e tem wi-fi e mais qualquer coisa. Mas não dá para ligar uns auriculares e usa-los em chamada, porque eu oiço, mas a pessoa do outro lado não me ouve a mim.

E é nisso que sinto a falta do meu bicho. Que continua a tentar ressuscitar em banho de arroz.

3 comentários:

  1. Pode ser que ainda ressuscite :p

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  2. Há objectos que se tornam mesmo importantes :)

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  3. Uma vez também deixei cair um telemóvel numa poça de água e ele deixou de funcionar. Mais de um ano depois (ainda o tinha guardado, nem sei porquê) decidi ligá-lo e ele funcionou! Ressuscitou.

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