quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Desabafos nocturnos ou Nós #19

"Era suposto queixar-me a ti.
Contar-te a ti o quão estou rodeada por gente estúpida. Por gente parva. Por gente despreocupada.

Era suposto queixar-me e a seguir confessar que ontem custou-me a adormecer e que, quando finalmente o fiz, era quase de manhã. E a aula das nove da manhã ficou para a semana. E a notícia que era suposto reclamar para mim, vai ter de ser reclamada para a semana. E depois queixavas-te tu de mim, do meu desleixe, dizias-me o habitual 'És sempre a mesma coisa!'.

Era suposto eu dizer-te um qualquer disparate só para te ouvir a rir. Perguntar-te como estás e saber de antemão que a resposta tem qualquer coisa a ver com o sono que sentes. Bombardear-te com mais vinte perguntas idiotas porque é assim que nós somos. Eu pergunto coisas parvas e tu respondes-me, parvo ou não.

Era suposto eu reclamar contigo quando estás a adormecer porque quero mais. Mais um bocadinho contigo. 'Tu nunca estás satisfeita, também!'. Nunca. Quero sempre mais. Quero-te sempre mais.

Agora... Agora espero por ti. Espero ainda mais, que antes já esperava. E quando vens, nunca sei com o que contar.
Não sei se esse sítio feio, que para ti é um trabalho e que para os dois é uma prisão, te vai devolver inteiro ou aos bocados. Sei que te tem devolvido sem réstia de força para nós.

Por isso, não te quero contar o quanto me custa.
Não te quero fazer lembrar do quanto magoa termos de passar por isto, depois de tudo o que já ficou para trás.
Não quero que vejas quão triste fico quando vou à tua procura por um qualquer motivo e depois percebo que não pode ser, que não podes estar lá.

Mas mais que tudo não quero que vejas como me custa a vir dormir sem te ouvir. Não quero que percebas o quanto eu fujo da cama e da hora de me deitar, por saber que não me vais poder dar as boas noites.

Sei que percebes tudo, mas eu não quero. E não quero voltar a quebrar quando vieres."

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