Por vezes sinto-me pequenina. Pequenina, muito pequenininha.
E hoje, sou pequenina em tudo.
E pego na minha malinha, amarela não sei porquê, e dou um passo em direcção à estrada cor de terra dourada que se me apresenta.
Levanto o pó com meus pés descalços, como poderia eu lembrar-me da existência de algo chamado calçado?
Conheço a calçada, que está já ali à beira da estrada, mas não quero a beira, quero o centro do caminho, a plenitude do caminho, a confusão completa e a perspectiva correcta quando umas centenas de metros à frente se me apresentar a encruzilhada.
E o medo.
O medo que tenho desde o principiozinho, desde o primeiro passo que dei em direcção à vontade empoeirada de ser livre e ficar em paz e sem que ninguém me persiga.
A terra invade-me as narinas e a garganta, já irritadas. Na ausência da gente que me perseguia, vejo-me perseguida pelos meus fantasmas. Mais frios. Incomodativos. Pesados.
Se antes sentia falta da força física, que se ia toda pelas pessoas que me extenuavam, agora tenho-a toda para mim. E de nada me vale, que a força anímica agora é que me falta e sem ela fico assim. Pequenina.
E enfrento agora as temidas tabuletas sob o vento que se levanta forte, que me faz tossir tanto quanto o meu medo me faz estremecer.
E agora, sem saber por onde ir, simplesmente me sento no meio da estrada. É o vento que me embala enquanto a noite cai e que me faz cair com ela, ali, adormecida.
Perco-me em sonhos. Uma mão puxa-me, a outra agarra-me, um destino qualquer sussurra-me ao ouvido, seduz-me, beija-me e conforta-me. E em sonhos eu amo um qualquer destino incerto que abraço e conforto no meu regaço entre o negrume e as mil cores que rodeiam o tudo e o nada que é o meu inconsciente.
E o brilho é tão forte mal abro os olhos.
Saúda-me o sol pela manhã, perante a encruzilhada que me acolheu como sua.
E ali está ele, abraçado a mim, a cabeça no meu peito, sujo da terra dourada, tão sujo quanto eu. "Descansa em paz, meu amor." Dorme feliz, vejo-o na expressão do seu sono, até a dormir sabe sorrir para mim.
Resta-me acarinhar o meu destino, confortável no meu corpo. É bom ter alguém assim.
Somem-se as tabuletas e a encruzilhada.
Qualquer pedacinho de chão é um lar desde que o tenha ali, de mão dada a mim.
[Este é um conto que escrevi há já algum tempo, parte da secção "A imaginação também fala!"]
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